sexta-feira, 9 de setembro de 2016

Arquétipos literários apodienses

Arquétipos literários apodienses
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Dos índios herdaram as informações escritas nos corpos, com tintas, acessórios, complementos e cores, obtidos na natureza. Já realizavam a interatividade correta, a do uso sustentável, que o homem moderno aos poucos vem descobrindo a necessidade. Precisam sobreviver e recuperar o planeta, deixando um pouco de esperança para as próximas gerações. Esgotaram o planeta consumindo suas reservas: minerais, vegetais e animais, transformadas em valores econômicos.

O corpo como a mais antiga mídia de transmissão de informação e de conhecimento. Os saberes definiam os usos e os costumes. As cores e os enfeites podiam definir um objetivo, um ato isolado e uma tribo. As feições faciais, com o porte de instrumentos de caça ou de guerra, poderiam definir seus objetivos; uma caça ou uma pesca; uma festa ou uma guerra.

Dos povos antigos, perdidos na linha do tempo, herdaram um tipo de escrita, feitas com símbolos e desenhos sobre a superfície de uma rocha. Uma mídia que suportou as intempéries ao logo do tempo. Diferente do livro que precisa ser protegido da chuva e da umidade, dos fungos e das traças, da luz intensa e do Sol. A grande vantagem [do livro]  é que pode ser transportado, ao contrario da rocha que não tem mobilidade, mas serve aos que ocupam o espaço a sua volta. E o nativo daquela época, seguia para outras paragens, para levar as informações que estavam arquivadas na rocha. As informações de hoje podem até estar arquivadas nas nuvens, e em outros tempos podiam estar em fumaça, ou mesmo em batidas em troncos, produzindo sons que ecoavam pelas florestas. O conhecimento é um capital imaterial e intelectual.

Próximo ao rio Apodi encontramos “O valor da Chapada”, que começa a sua história escrita, nos tempos modernos, com uma disputa entre índios e colonizadores. Antes das lutas e das disputas armadas, pela ocupação das terras, podemos minimamente afirmar que palavras foram verbalizadas por ambos os lados, trocaram sorrisos ou farpas. Mas não foram filmadas ou gravadas, não há vídeo ou áudio que retrate aquele tempo. Mas informações estavam inscritas em suas vestes e seus vestuários, em suas faces, mostrando quem eram e quais seriam seus interesses e objetivos. Usaram do seu conhecimento, para ocupar um lugar, no espaço e no tempo. E ficou como sua padroeira Nossa Senhora das Dores.

Hoje alguns excursionistas, livreiros e escritores, vindos de outras terras podem levar agora outras noticias, obtidas em outras terras, transmitidas por outras mídias, denominadas agora de livros. Folhas impressas que não são amarradas com embiras ou coladas com visgos obtidos da natureza. Mas são folhas de papel surgidas de outras folhas com seus troncos e galhos.

Agora a mídia é manufaturada, a arvore foi transformada, criando uma mobilidade de suas fibras e células, restou a sua essência de transferir ideias e pensamentos. As mesmas arvores que um dia transformadas em canoas, levavam o corpo indígena como mídia, para outros pontos de um mar ou um rio. quando os nativos transferiam as informações e os conhecimentos. Agora as arvores foram transformadas em livros. Criados com maquinas desde os primeiros momentos: com símbolos, com as letras, que juntas formam palavras e orações. Transferem sentimentos e emoções. Transferem sons que ecoam na mente.

Os excursionistas podem ter um novo objetivo, atualizado no tempo. Ocupar as mesmas terras que um dia foram disputadas. Ocupar a terra com seus livros e seus conhecimentos. Mas precisam travar batalhas, mostrar que possuem um conhecimento, que o povo daquela terra não possui, e pode adquirir. Um conhecimento registrado em livros e reconhecido por outros leitores acampados em outras terras.

E uma mídia, a das mais antigas observadas, não é esquecida pelos novos índios, agora livreiros e escritores: a mídia do corpo, que verbaliza a palavra, muitas vezes complementadas com símbolos e gestos, escritos e descritos no ar. O corpo também fala, fala a sua linguagem e a linguagem que esta contida nos livros. Não basta chegarem com suas armas, os seus livros. Precisam ocupar as terras a serem conquistadas, com a sua palavra e a sua presença. Mostrar que não vieram para uma guerra, mas para uma festa.


RN, 09/09/2016

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