Mameluco maluco e Cafuso confuso
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Um mameluco maluco que ronda a cidade, convocou o povo para uma aula de maquiagem silvícola. Esta emancipado, tem CPF e RG, pode até ter Lattes, pois parece estar inscrito no mestrado. Ainda há suspeitas que tenha uma CNH, e até pode usar um carro bugre ou selvagem, compatível com seu perfil profissiográfico. Pode até ter registro no TRE/TSE. Mas é meio cafuso e meio confuso. E com um agravante, o mestiço catimbozeirro, está muito distante de suas origens. Pensa na Jurema e faz leituras da Bíblia; lê Castro Alves e Milton Santos, quiçá Ruy Moreira e Bherta Becker. Yves La Coste.e Dee Brown, quiçá Gramsci e Kant. Ingressou na universidade e fez um norteamento do seu pensamento e conhecimento, deixando a floresta para trás, ficou suleada como diria Paulo Freire. Agora vem fazendo um uso de marketing, e culmina com uma tentativa de um merchandising de suas possíveis raízes, quer pintar o povo todo de índio, tentará ensinar mulheres a se pintar. Trabalha a serviço da tecnologia e do desenvolvimento, deixando moléculas de monóxidos pelas ruas, e dióxido sobre os papéis de desenho. E ainda defende a floresta.
Convocou o povo da aula de maquiagem, que levem o material necessário em suas necessaires: Oxente é preciso levar pinceis e tintas antialérgicas, disse ele pela porta voz de outras tribos, mas com sua oca em terras potiguares. Pediu pinceis sem especificar os tipos: sintéticos ou de pelo de marta; não definiu as marcas: tigre ou asiático. Pediu tintas sem definir as cores e o tamanho do pote. Talvez águia ou americanizada. Prefere o pincel ao uso dos dedos, prefere as tintas industrializadas às pigmentações que podem ser obtidas na natureza.
Suas habilidades e necessidades artísticas já não lhe permitem usar uma folha de bananeira ou um papel sulfite, mas minimamente um papel Canson, em papel vegetal ou outras variedades com gramatura e textura especificada. Não usa tintas e cores obtidas na natureza, prefere os crayons e as aquarelas importadas. E finaliza seus trabalhos com verniz em spray, para que sejam perpetuados. Está muito longe de suas origens e suas tribos, sua piroga esta perdida nos rios de asfalto com peixes motorizados. Não enxerga mais o Sol escondido pelos prédios e por seus óculos escuros. Mantem seu pescoço abaixado, para saber as mensagens dos deuses, que chegam como mágica na palma de sua mão.
Precisa agora sair em busca do conhecimento, do caminho das índias para chegar aos temperos e esperarias, para aprender e fazer seus usos diversos, nos saberes e nos sabores. Está longe da floresta para obter pigmentos coloridos, mas existem vários supermercados e hipermercados no seu caminho, onde pode obter óleos vegetais, cúrcuma e urucu; tapioca e carvão. Assai, jojoba, babosa e açafrão. A índia cicerone conhece os atalhos, para chegar em mercados dos tempos antigos.
Há uma probabilidade grande, de que o silvícola boa-vistense aprenda muito na cidade, nas cidades de outras tribos excursionadas, e aprenderá mais sobre suas origens e suas tribos. Lugares urbanizados, mas que guardaram uma história com palavras, utensílios e alimentos. E assim poderá afastar as suas urucubacas impregnadas e contaminadas pelos miasmas da ciência e da tecnologia.
Uma cidade guardou a herança cultural dos índios potiguares, mesmo sendo ocupada ou invadida por portugueses, americanos e holandeses. Ainda consome ginga, tapioca e cuscus; grude feito sobre uma placa de pedra e farinha tirada do tipiti. O homem do campo, da mata ou da cidade, aprende muito mais em viagens do que quando estuda, o que esta contido nos livros. E até das viagens onde a boca fica ardida, por excesso de pimentas variadas. São das viagens que surgem os livros, de caráter poético, literário ou cientifico, cada um com um modelo próprio de escrita. não importa a viagem temporal ou atemporal, pelo matéria ou pelo espírito. É preciso evoluir no tempo e no espaço. Qualquer curso universitário impõe um conhecimento, não desejado, alem da intenção do aluno.
Em terras potiguares
12/08/2016
Roberto Cardoso
RM & KRM
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